quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Clarice e eu.

Eu sempre evito citar Clarice nas redes sociais, não porque a obra dela não tenha sido de grande impacto na minha vida, mas talvez, por ter sido de grande impacto. Quando penso em Clarice Lispector algumas coisas me veem à cabeça: sangue, primeira menarca, poesia, fluxo de consciência, pecado.
Eu não sei o que parece a quem lê pela primeira vez essa minha lista de coisas que Clarice me trás, mas talvez eu seja capaz de esclarecer algumas; e começo pelo pecado; um trecho de um texto que li e me rasgou como um punhal: “... receba em teus braços o meu pecado de pensar...” pensei Eva, Virgínia, Pagu, eu e tantas mulheres sem nome, entretanto todas nós, pecadoras. Pecadoras desde o ventre, por querer mais, por abraçar o prazer e o grito, por não ser constituída de silêncios.
Fluxo de consciência, técnica usada por Clarice com maestria, fazendo com que seja impossível de lê-la somente, topar ler Clarice é dar às mãos a ela, e abraçar o que vier e bem, a linha de tempo não vai ajudar. Pra mim Clarice é poesia pura, eu acredito na prosa poética, no encantamento das palavras, e poesia pra mim sempre vai verter sangue. A primeira menarca, eu estava brincando de bonecas quando aconteceu a dor e a minha casa de mulheres estava feliz com esse “desabrochar” e eu me lembro de olhar aos prantos de dor e medo para a minha mãe que me olhava no chuveiro e perceber pela primeira vez que ela não ia me fazer parar de sangrar, e que aquela era só a primeira vez onde não havia o que ser feito que eu precisaria sangrar e abraçar toda dor pro resto da vida e estaria sozinha nisso, por mais que quisessem, ninguém sangraria por mim. E quando eu achei que havia entendido tudo, eu li a paixão segundo G.H. de Clarice e chorei novamente quando ela disse que temos que ter cuidado com os defeitos que cortamos em nós mesmos, porque nunca sabemos ao certo qual deles nos mantém de pé.

E foi um ano de folhas em branco. Um ano me fazendo de pedaços de silêncios, um ano para aceitar minhas falhas como parte de mim e poder escrever novamente. Por isso evito citar Clarice. Seria desnudar demais a minha história sacar da manga uma frase sua pra cada vez que um qualquer machucasse meu coração.

Um comentário:

Obrigada pelo carinho de me ler, e se agradei, volte! que as portas estão abertas pros amigos!